quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

"Alguns padres não são feitos para uma vida celibatária" Entrevista com Ir. Brigitte Thalhammer


Brigitte Thalhammer não é uma freira dos livros ilustrados infantis. Ela não usa um hábito religioso com o famoso véu, mas práticas calças de linho prático e uma camiseta cinza. Sobre a sua mesa, vemos discurso inédito de Jean Ziegler [ex-professor de sociologia da Universidade de Genebra], que ele pronunciaria no Festival de Salzburgo. A religiosa da Congregação das Irmãs do Divino Salvador, nos mostra o seu quarto dizendo: "Eis a minha cela".

A reportagem é de Katrin Burgstaller e Rosa Winkler-Hermanden, publicada no sítio Derstandard.at, 30-11-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ela encontra muitos estímulos na Pfarrer-Initiative. Ela também considera repugnantes alguns desdobramentos na Igreja Católica. "São coisas que me incomodam muito", diz Thalhammer. Ela não entende o fato de ser negado às mulheres na Igreja Católica o acesso ao ministério ordenado afirmando-se que "assim foi estabelecido pelo Senhor Jesus". Nesta entrevista, ela explica por que não considera necessário o celibato para os padres, mas rejeita para as religiosas "relações sexuais com um homem ou uma mulher".

Brigitte Thalhammer, nascida em 1965, em Bad Ischl, entrou na Congregação das Irmãs do Divino Salvador em 1996. É conselheira administrativa do hospital St. Josefspital, em Hietzing, Viena. Estudou economia empresarial e depois trabalhou em uma agência de viagens. Sua vida religiosa começou com o compromisso em uma paróquia. Como superiora provincial, leva "a responsabilidade geral por tudo ", que vai da atenção a cada irmã individual à responsabilidade por todos os problemas de direção e de finanças.


Eis a entrevista.

Há falta de padres. Há também falta de freiras?

Sim, é claro. Embora a palavra "freira" [monja] diga respeito apenas às chamadas comunidades monásticas, isto é, aquelas congregações cujos membros levam a sua vida na clausura do mosteiro. Mas também temos uma falta de religiosas.

Por que existe essa falta?

Há muitas razões. Uma delas é que a imagem que as pessoas têm da vida religiosa é muitas vezes bastante estranha. Não consegue transmitir a ideia de que ela pode ser uma forma de vida. Muitas também se perguntam por que devem fazer parte dessa Igreja que se torna cada vez mais problemática. E, enfim, a questão Deus também não é mais tão evidente. No fundo, estão em crise todos os vínculos que comprometem para toda a vida, inclusive o casamento. Muitos não querem se decidir a entrar na incerteza de uma vida por toda a vida.

Quantas jovens entram anualmente na sua congregação?

Seria bom se todos os anos viesse uma. Mas não é assim. Atualmente, há duas irmãs no noviciado, ou seja, o tempo antes da profissão definitiva.

Por que na nossa sociedade em geral as pessoas querem menos vínculos?

Há muitas possibilidades de escolha. Antes, tudo era previsto de uma maneira mais rígida e precisa. Essa mudança radical se estende a todos os âmbitos da vida: ao trabalho, ao lugar de residência, ao companheiro ou companheira de vida. A questão é: como pode permanecer coerente uma decisão de vida em uma sociedade plural em contínua transformação?

Quando a última religiosa entrou na sua congregação?

Nos últimos cinco anos, houve duas aspirantes. Uma foi embora por sua própria vontade. Para a outra, nós dissemos que não conseguíamos imaginá-la como religiosa...
que condições é preciso responder para poder viver com vocês?

A primeira é um desejo ardente de Deus e da vida. Depois, há as diretrizes do Direito Canônico: por exemplo, não deve ser casada. E uma coisa importante é que aquelas que querem vir até nós devem ter vivido antes de forma autônoma, sozinha.
Quem não sabe viver sozinha não sabe entrar em relação. Isso vale para as relações a dois, mas também para as comunidades religiosas. É preciso ser capaz de viver em uma comunidade com coirmãs que não escolhemos e que também são muito diferentes.

O que devem compartilhar na vida cotidiana?

Pode-se imaginar, à primeira vista, como uma comunidade residencial. Compartilhamos coisas práticas como a cozinha, o banheiro, o carro e também vivemos em comunhão de bens. Fundamental é o centro comum, que para nós é Jesus, o salvador, o redentor. A partir dessa relação com Deus, organizamos a nossa vida pessoal e a nossa vida comum.

Você disse que há cada vez menos irmãs...

Eu prefiro a expressão "mulheres religiosas", senão pensamos na nossa irmã mais nova... Há muito tempo já não pensamos que as irmãs são mulheres.

Pois bem. Então, você disse que há cada vez menos religiosas, porque a pergunta que surge é se podemos seguir em frente com essa Igreja. Falemos da Iniciativa da Desobediência. O que pode ser apreendido a partir dela?

Para mim é emocionante como essa palavra "desobediência" teve sucesso. Os pedidos que são expressos, de fato, são velhos. São repetidamente repropostos e, evidentemente, por um bom motivo. Já existem soluções para divorciados em segunda união, para padres que têm uma família. Essas soluções são apresentadas pela Igreja de maneira não oficial, mas são contrárias à orientação de fundo. Eu entendo que não se queira romper as defesas. Mas não é pedir muito das pessoas o fato de ter que expressar na indissolubilidade do casamento a indissolubilidade e a natureza absoluta da relação de Deus conosco, seres humanos? Não entendo por que a Igreja, no caso de uma separação, não pode dizer oficialmente que a misericórdia de Deus é ainda maior.

Você também foi assistente de pastoral. Para você, é um desejo que você e outras mulheres possam receber a ordenação sacerdotal?

Sim, Se se dissesse que a rejeição das mulheres como sacerdotisas está fundamentada no fato de que é difícil romper com uma longa tradição, então eu poderia aceitar! Se fosse essa a motivação, eu diria, então, que devemos começar a ver como podemos nos mover para que as coisas possam mudar. Mas se me é dito: "Assim foi instituído por Jesus, porque ele chamou apenas homens do sexo masculino", então eu fico indignada.

Você também vê mulheres chamadas ao sacerdócio.

Sim, isso não depende do gênero. Se a argumentação é "histórica", então todos os padres católicos deveriam se tornar judeus e casados.

Muitas pessoas se perguntam por que as mulheres são ativas na Igreja Católica dominada por homens.

Há coisas que me deixam com raiva, mas eu não me deixo que isso me afaste da minha igreja. Nesta Igreja, há muitos homens e muitas mulheres muito comprometidos – eu devo muito a alguns deles – e quero viver e poder oferecer isso a outros. Nisso, sou grata a uma tradição muito rica e profunda, segundo a qual Jesus quer ajudar as pessoas a alcançar uma liberdade que não é fácil de suportar. Eu penso na história do Grande Inquisidor de Dostoiévski, nos Irmãos Karamozov. Ninguém está imune à tentação de tomar tudo nas mãos e se tornar escravo do poder – e isso, naturalmente, é um tema presente também na Igreja.

Você apoia a Iniciativa da Desobediência [Pfarrer-Initiative ou Iniciativa dos Párocos]?

Posso compreendê-la muito bem e também compartilhar os seus conteúdos. É pesado ver o modo pelo qual esse debate é levado adiante publicamente, mas internamento eu o considero muito importante. O melhor seria que os conflitos fossem definidos diretamente.

A Iniciativa da Desobediência pode chegar a algum resultado?

Tenho minhas dúvidas. Os moinhos moem lentamente. Todos estão, mais uma vez, conscientes da urgência, inclusive os membros da hierarquia. Mas parece justamente que estes também se encontram perante um dilema.

O número de pessoas que vão embora da Igreja aumenta, e a Igreja se pergunta, preocupada, o que pode fazer a respeito. Qual é a sua receita?

Eu acredito que é preciso se mostrar confiável e encontrar a linguagem e os modos para tornar compreensível também a entrega incondicional a Deus. É preciso uma ancoragem profunda e interior no mistério de Deus para que se possa engajar de forma credível pela dignidade de todo ser humano. Um modo para expressar isso poderia ser admitir os divorciados em segunda união à comunhão. Também seria credível se se pudesse dizer diretamente que existe o ministério da pregação dos leigos – e graças a Deus ele existe. Mas oficialmente não se pode. Ou também se prestaria um serviço à verdade e à sinceridade se a vocação ao ministério ordenado não fosse ligada à forma de vida celibatária. Muitos padres vivem a sua relação escondidos, o que não ajuda ninguém. Isso é aceito pela população. Eu venho de uma paróquia em que era oficial que o pároco tinha uma namorada.
As religiosas também devem poder ter relacionamentos? Não só com Deus, mas com homens e mulheres?

É claro que nós vivemos relações – o ser humano é um ser de relação. Mas quando eu entro em uma congregação, renuncio conscientemente a relações exclusivas, especificamente a relações sexuais com um homem ou com uma mulher. Essa é uma vocação a uma forma de vida que para muitos é incompreensível, mas que existe evidentemente – e na qual é possível viver muito bem. Residência das salvatorianasOutra coisa é unir a vocação sacerdotal com a vocação ao celibato. Em muitos padres, percebe-se que eles têm uma maravilhosa capacidade de se relacionar e muitas vezes são muito estimados pelo povo, transmitindo com toda a sua vida o fato de serem de Deus para nós, seres humanos – mas não foram feitos para uma vida celibatária. Seria melhor que pudessem se casar e permanecer como padres. Colocariam muitas coisas em movimento.

A Igreja ainda é relevante hoje?

Na Igreja, há partes, estruturas que não são oportunas. E igualmente, na Igreja, existem pessoas, projetos que estão à frente do tempo. Do que as religiosas vivem?

Do trabalho das suas próprias mãos. As que nos precederam construíram muitas coisas. Algumas irmãs têm uma pensão do Estado, se foram professoras. Quanto ao resto, somos responsáveis. Devemos cuidar para que aquilo que economizamos e construímos seja também suficiente para a velhice e para as nossas tarefas aqui na Áustria e no mundo.

Uma religiosa como vocês recebe um salário mensal?

Temos a comunhão de bens. Isso significa que todos os salários vão para uma mesma conta. Algumas recebem uma espécie de "mesada", e o resto é posto à disposição. Outras fazem um orçamento. No início do ano, eu tenho que ver aquilo de que eu preciso, quais gastos importantes terei que fazer: quanto eu preciso para as férias, para os cursos, para os óculos novos... O orçamento é discutido na comunidade, e então recebemos esse dinheiro por um ano, com o qual temos que nos virar. Se há imprevistos, há um suplemento.

Você é a superiora provincial das salvatorianas. Como isso se deu?

Fui eleita. É um processo altamente democrático. Até na Igreja! Antes que eu possa ser escolhida superiora provincial, devem ser escolhidas as delegadas para o capítulo provincial. Todas as 91 irmãs salvatorianas da província da Áustria são envolvidas na escolha. Todas também são envolvidas na elaboração da proposta de três nomes, que é confirmada pela direção mundial da nossa comunidade, em Roma. Depois, as delegadas do capítulo provincial escolhem entre os três nomes indicados.

Quantos anos você tinha quando se tornou freira?

Quando eu entrei na congregação eu tinha 31 anos. A decisão de me tornar religiosa amadureceu lentamente. Não cresci em uma família religiosa. A percepção de Deus cresceu em mim. Isso me tocou e se tornou cada vez mais central na minha vida. Em um curso sobre acompanhamento espiritual, eu conheci alguns padres e religiosos, e constatei que eram pessoas muito animadas. Então, fiz a pergunta se a vida em uma congregação também poderia ser uma forma de vida para mim. Assim, cheguei à decisão de que gostaria de viver e moldar as minhas relações com as pessoas e com Deus nessa forma de vida.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Onda de contestação eclesial chega à Bélgica

"Em solidariedade com os irmãos da Áustria, da Irlanda e de muitos outros países". mais de 50 padres e leigos flamengos publicaram, no dia 19 de novembro, um manifesto em que convidam os seus bispos a promover reformas urgentes.

A reportagem é de Céline Hoyeau, publicada no jornal La Croix, 02-12-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Assim como no Apelo à desobediência, assinado em junho por 400 padres austríacos, eles também reivindicam o acesso à comunhão para os divorciados em segunda união, a ordenação de homens e mulheres casados e o acesso dos leigos à pregação das homilias.

"Uma comunidade eclesial organizada ainda é necessária", escrevem. "Mas a sua forma atual não corresponde mais às realidades atuais porque, tanto pela sua organização em paróquias, quanto pelo exercício da sua missão, ela ainda deixa tudo sobre os ombros do ministério ordenado, reservado unicamente aos homens, além disso celibatários. E como o déficit de vocações está longe de mudar, é preciso encontrar novos caminhos para sair desse impasse".

O lançamento do manifesto remonta ao padre Johan Dekimpe, pároco de Courtrai, 69 anos, a quem se uniram alguns coirmãos e um pequeno grupo de leigos.

Na sexta-feira, 25 de novembro, 5.500 pessoas haviam assinado o manifesto. [Neste sábado, 10 de dezembro, o sítio do manifesta já contava mais de 6.500 assinaturas].

Entre os signatários, figuram padres e leigos, além de personalidades conhecidas, como Roger Dillemans, reitor emérito da Universidade Católica de Leuven, e Paul Breyne, governador dos Flandres Ocidentais (1,2 milhão de habitantes).

Todos se dizem convictos de poder reunir "um amplo apoio" nas dioceses do país. "Também estamos convictos – escrevem – de que se, enquanto fiéis, tomarmos a palavra, os bispos irão ouvir e estarão prontos para promover um diálogo sobre essas reformas necessárias e urgentes".

O movimento de reforma também chegou à França, onde, embora sem encontrar uma repercussão tão ampla, cerca de 20 padres da diocese de Rouen se uniu ao apelo dos austríacos.


Fonte

domingo, 4 de dezembro de 2011

Uma espiritualidade ecumênica vivida hoje. Diálogo entre Hans Küng e Jürgen Moltmann

O papel de leigos e leigas, pastores e pastoras, celibato, Igreja, Ceia, eucaristia: esses e diversos outros pontos em aberto no debate ecumênico são abordados pelos teólogos Hans Küng e Jürgen Moltmann no diálogo que segue.

O encontro ocorreu durante a Jornada Ecumênica (Ökumenischer Kirchentag), em Munique, na Alemanha, em 2010. O texto foi publicado na revista Concilium, nº. 3, de 2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o diálogo.

Hans Küng – O nosso tema tem por título Uma espiritualidade ecumênica vivida já hoje. Acredito que posso dizer que nós já a vivemos. Quando Karl Barth, o grande teólogo reformado, me perguntou um dia: "O que há, propriamente, entre você e eu?", eu lhe respondi: "Em meio a nós dois, com efeito, propriamente nada, mas atrás de você e atrás de mim, há muito". Por isso, não podemos nos contentar com pequenas reformas. Devemos exigir uma nova reforma: não para uma divisão, mas pela unidade da Igreja.

Jürgen Moltmann – Para mim, o ecumenismo não é a composição das situações de fato das Igrejas atuais. Ecumenismo quer dizer: comunhão a partir da renovação das Igrejas, em nome de Jesus Cristo. Não é a unidade que traz a renovação, mas sim a renovação que traz a unidade. A esse respeito, quero dar um exemplo. Em 1962, aconteceu algo inesperado e de repente: o Concílio Vaticano II. Nada teve tanta influência sobre nós, protestantes, quanto o Concílio Vaticano II: naquele momento, admiramos e também invejamos os cristãos católicos por esse grande passo. Eu nunca vivi uma comunhão maior com os cristãos católicos do que durante o Concílio Vaticano II e, mais tarde, na revista Concilium, da qual, durante 20 anos, eu participei como coeditor. A Igreja conciliar: essa é a esperança de que eu alimento.

Hans Küng – Nesse sentido, a mudança de paradigma começou já naquele momento, mas se realizou apenas pela metade. Agora, temos a língua do povo, temos a liturgia do povo, temos também o cálice aos leigos, mas, por exemplo, ainda não temos o casamento para os padres. Do paradigma do Iluminismo temos a liberdade religiosa, temos a reviravolta com relação ao judaísmo, a reviravolta com relação às religiões mundiais e o mundo secular. Mas, no Concílio, não foi possível discutir muitas coisas, entre as quais a questão da contracepção – em 1968, chegou a encíclica Humanae Vitae –, a questão do celibato, a questão da intercomunhão eucarística. São todas questões que ficaram em aberto desde então, e não querem esperar mais 20 ou 30 anos!

1. Quem são os leigos?

Jürgen Moltmann – Por leigos [laicos], nós entendemos muitas vezes alguém não religioso, um não especialista, mas isso é completamente falso. O termo "leigo" [ou laico] vem de laos, ou seja, "povo", o povo de Deus. Um leigo é um membro do povo de Deus. E, desse ponto de vista, todo pastor, homem ou mulher, todos os bispos e o próprio papa de Roma é um leigo, um membro do povo de Deus. Eu fiquei muito entusiasmado pelo fato de o Concílio Vaticano II ter retomado a ideia de Igreja como povo de Deus, porque essa ideia reúne clero e leigos em uma grande comunhão.

Hans Küng – Dos bispos, veio o pedido de que, no início da Constituição sobre a Igreja Lumen Gentium, fosse posto um parágrafo sobre o povo de Deus, De populo Dei. Isso estava naturalmente em contraposição com a imagem de Igreja que, desde a Idade Média, tinha caracterizado a Igreja romano-católica: uma pirâmide com o papa, os bispos, os padres acima, e os leigos embaixo. Era algo revolucionário, e, mesmo assim, no Concílio, o aprovamos com uma grande maioria. Apenas o grupo curial foi contrário: os mesmos que, em grande parte, ainda estão agarrados ao poder e impedem que se tirem as consequências disso.

Jürgen Moltmann – Nós temos a expressão "o cristão maior de idade". A expressão inclui a coragem de um juízo próprio, de uma palavra própria, de uma fé própria. Chegaremos a uma época em que a fé pessoal terá mais importância, e a participação na fé da Igreja será mais fraca. Por isso, precisamos de cristãos que se tornaram adultos, maiores de idade. Os leigos devem se tornar cristãos maiores de idade na colaboração com o governo da Igreja: no concílio, nos sínodos e nas comunidades do redespertar. Se uma paróquia ou uma circunscrição eclesial se torna uma comunidade, então formam-se esses cristãos maiores de idade que também incluem, na sua comunhão, os párocos e os bispos. Na comunidade, cada membro é responsável pelo que nela acontece. É necessário pensar a Igreja a partir de baixo. E a Igreja de cima, a hierarquia, deve ser inserida na grande comunidade cristã.

2. Quem são os pastores e as pastoras?

Jürgen Moltmann – Se o próprio povo de Deus já é um povo sacerdotal, como se afirma no Novo Testamento, não resulta disso, talvez, o sacerdócio universal de todos os fiéis? Eu li isso também no Vaticano II. Mas, na tradição católica e no movimento católico de reforma, como o sacerdócio universal de todos os fiéis se relaciona com o sacerdócio especial de alguns ministros?

Hans Küng – O sacerdócio universal certamente é uma afirmação da Escritura. A passagem mais conhecida é a de 1Pedro 2, 9: "Vós sois uma nação eleita, o sacerdócio régio", e isso naturalmente também foi recebido pelo Concílio Vaticano II. Isto implica, depois, que os ministros oficiais não sejam os patrões da Igreja, mas sim seus servidores. O Novo Testamento, para indicar os ministros, não recorre a uma concepção civil qualquer, mas sim fundamentalmente a um conceito que não era usado, de fato, para esse fim, ou seja, o do serviço à mesa: um serviço simples, humilde, que, para indicá-lo, se usava a palavra diakonia. Compreenderam-se os ministérios eclesiais como diaconia, como serviço à comunidade. Isso também é dito com muita clareza pelo Concílio Vaticano II na Constituição sobre a Igreja. A questão, porém, é justamente qual rosto tem a prática efetiva. O papa chama a si mesmo de "servo dos servos de Deus", e essa é uma bela expressão de Gregório Magno, mas, de fato, ele se comporta como o senhor dos senhores e assim trata até mesmo os bispos.

No meu livro A Igreja Católica (1967; Ed. Objetiva, 2002), eu parti do fato de que, no fundo, todo cristão está habilitado a batizar. Isso não foi contestado por ninguém. Mas então se põe uma outra questão: o mesmo cristão não poderia, em certas circunstâncias, assegurar também o perdão dos pecados? Certamente, eles pode fazer isso, na esperança de que Deus perdoe os pecados. A eucaristia – isso é evidente – não foi dada a um indivíduo: ela foi dada a todos. "Fazei isto em memória de mim" é a afirmação que se refere à celebração da eucaristia. E, a partir dela, todo cristão está habilitado a celebrar a Eucaristia. Naturalmente, não no sentido de que, agora, alguém, sozinho, pode celebrar a missa para si, como me acusaram de defender. Não é esse o sentido. Mas, em princípio, um grupo de cristãos pode se reunir para celebrar a eucaristia. Embora outros o contestem, eu defendo que essa é uma celebração da eucaristia válida.

Jürgen Moltmann – Essa também é a práxis nas famílias evangélicas, e essa era a práxis nos campos de prisioneiros, em situações de emergência, e fico muito contente que, com relação a isso, sejamos da mesma opinião. Todos os fiéis batizados têm o direito de anunciar, de testemunhar a sua fé, de batizar e de partilhar a Ceia do Senhor. Na celebração evangélica da Ceia, nós nos dispomos de modo a formar um grande círculo e dirigimos reciprocamente as palavras da instituição: "Por ti dado, por ti derramado". Portanto, nós fazemos isso como uma grande comunidade, não como uma performance de um indivíduo ao altar para os muitos que são apenas destinatários, receptores.

Hans Küng – Pensemos na China: se ali um grupo de cristãos se reúne e celebra a eucaristia, se dirá que essa é uma celebração válida da eucaristia. Naturalmente, isso tem um altíssimo significado para o ecumenismo, já que não se pode negar a outros cristãos a validade da eucaristia só porque não entram novamente na sucessão apostólica.

Em uma situação normal, obviamente é o pároco quem preside a eucaristia, aquele que está à frente da comunidade. Essa é, em todo o caso, a tradição católica, e eu gostaria de conservá-la. Mas isso não deveria significar que nem todos, em última instância, podem presidir. E, se as coisas continuarem como estão, ou seja, que cada vez mais comunidades permanecem sem pároco, se poderá questionar o que essas comunidades devem fazer. O que é mais importante: a eucaristia ou o celibato?

Jürgen Moltmann – Muitos pastores e pastoras estão sobrecarregadas de compromissos, porque devem fazer de tudo ao mesmo tempo: pregar, ensinar, garantir o cuidado pastoral, visitar os doentes, prestar a diaconia, organizar círculos comunitários etc. O que fazemos em uma situação desse tipo? Devemos empregar mais "leigos" que ajudem o pastor, e, portanto, subdividir o conjunto dos carismas, dos dons pessoas e das exigências que confluem no ofício paroquial? Ou, inversamente, não seria melhor pensar a partir da comunidade e dos círculos domésticos, e depois redistribuir as diversas tarefas, por exemplo, a assistência pastoral nas casas de saúde, as visitas aos doentes e assim por diante? Mas são dons que, em uma comunidade, encontram-se em estado dormente. E então, justamente quando uma comunidade não tem um pastor, esses dons dormentes dos "leigos" muitas vezes se despertam.

Hans Küng – Uma afirmação totalmente fundamental em Paulo se refere justamente aos carismas: todo cristão tem os seus dons de graça, diz ele. Podem ser muito simples, como o dom de aconselhar, de ajudar, de curar. Também podem ser dons de direção. Na comunidade, existem os apóstolos, mas também profetas, mestres, teólogos etc. Em Paulo, portanto, não há simplesmente uma hierarquia, com base na qual alguém decide, e os outros são passivos. Eu penso que, em muitas comunidades, nós temos uma multidão de "leigos" que já exercem o seu carisma. Em ambas as confissões. E os párocos notaram que isso só funciona em grupo. Quem é, portanto, a Igreja? Como a Igreja é percebida publicamente?

3. Quem é a Igreja?

Jürgen Moltmann – Publicamente, a Igreja é percebida como Igreja institucional, como Igreja de bispos, como Igreja do papa. Deixando de lado, porém, aqueles grandes eventos que ganham o palco da televisão, a Igreja é, domingo após domingo, os três, quatro milhões de cristãos presentes nas igrejas, aqueles que durante a semana trabalham nas instituições diaconais, mas esse não é um bem igualmente "utilizável".

Hans Küng – E como a Igreja é percebida privadamente?

Jürgen Moltmann – No âmbito privado, temos uma imagem de Igreja com a qual só dificilmente podemos nos identificar. Nos escritórios paroquiais, somos catalogados como frequentadores das funções litúrgicas. Como se nós só existíssemos para frequentar o culto divino! E, na Ceia, somos contados como convidados, como se não fizéssemos parte da família. Mas é uma coisa impossível. Por isso, a minha tese é esta: a comunidade é a crítica da Igreja oficial e o seu futuro! Uma comunidade é mais do que uma circunscrição eclesiástica. No âmbito evangélico, há a tentativa de tornar a Igreja mais atraente na sua oferta religiosa, com a ajuda de consultores empresariais. Mas isso não nos degradaria a clientes da Igreja e dos seus aparatos? As comunidades nas quais vivemos, porém, não são associações locais da igreja territorial! A igreja territorial, ao contrário, é a união das igrejas vivas nesse determinado lugar!

Hans Küng – Nós, católicos, temos o problema oposto. Na Alemanha, em breve, apenas um terço das comunidades ainda terá um pároco. Tudo isso é mascarado, agregando diversas comunidades e chamando o resultado dessa operação de "circunscrição ou unidade pastoral". Temos agentes de pastoral que, no domingo, correm freneticamente de uma igreja à outra. Na Idade Média, eles seriam chamados de "padres de missa": limitam-se a celebrar a missa e depois são forçados novamente a sair de novo imediatamente. Assim, naturalmente, as comunidades se desintegram. No entanto, como se passa da Igreja da assistência religiosa à Igreja da participação ativa? Como a Igreja “para” o povo se torna uma Igreja “do” povo?

Jürgen Moltmann – Na história da Igreja evangélica, temos um exemplo: as comunidades espontâneas da Igreja confessante [ou confessional] na época do nacional-socialismo. Elas não eram articuladas de modo hierárquico, mas sim organizadas mediante os chamados "conselhos de irmãos". Eram comunidades que, na situação de opressão por parte do Estado e do partido, financiavam por sua própria conta os seus pastores. Entrava-se em uma comunidade desse tipo por explícita escolha e se recebia uma carta que atestava que você era seu membro.

Em Tübingen, temos hoje a comunidade de São Tiago. De circunscrição eclesiástica, tornou-se uma comunidade e precisamente por meio de 20 círculos domésticos. Esses círculos domésticos preparam as liturgias. As atividades da comunidade não se concentram na pessoa do pastor, que não deve estar em toda parte. Cada um é um especialista da sua própria vida, das suas capacidades, da sua fé. Quando o pastor que começou tudo isso se aposentou, a comunidade geriu sozinha as suas liturgias por nove meses. E a Igreja estava tão cheia como antes. Para mim, esse é um exemplo de como se passou de uma Igreja da assistência para uma Igreja da participação ativa.

Hans Küng – Portanto, se o ambiente-catolicismo não funciona mais, e se nem aquilo que antes constituía a cultura protestante não existe mais nessas modalidades, então o fato de participar ou não depende completamente da decisão do indivíduo.

Jürgen Moltmann – Sim, estou convencido disso, a não ser que os indivíduos sejam, naturalmente, pessoas que vivem para si mesmas. Eles vivem em relações, em famílias, em grupos de amigos etc. Mas pertencer a uma comunidade e participar dela ativamente é uma decisão pessoal.

4. A situação do ecumenismo e a questão da hospitalidade eucarística

Jürgen Moltmann – Acredito que o motivo mais profundo para o ecumenismo é a oração dirigida por Jesus ao Pai: "Que todos sejam um" (João 17, 21). E acredito que essa oração é ouvida, de forma que nós, no fundo, já somos um. Por isso, para mim, o ecumenismo significa: no fim, cresce junto aquilo que pertence a todos. Mas qual forma de crescer juntos existe hoje?

Hans Küng – Fundamentalmente, é verdade: no Espírito, já são um. Somos unidos no batismo, que as Igrejas reconhecem reciprocamente, e, se todos nós somos batizados no nome de Jesus Cristo, em Jesus Cristo somos um. Isso deveria ser levado muito mais a sério do que costumamos fazer.

Eu rejeito o ecumenismo de retorno. O fato de que o meu antigo colega, o atual Papa Bento XVI, tenha oferecido aos párocos e aos bispos anglicanos conservadores, em troca do seu retorno a Roma, a possibilidade de não observar o celibato, eu vejo isso como o contrário do que o Concílio queria. Nós queríamos que nos renovássemos por “ambas” as partes e nos orientássemos segundo o evangelho e não fôssemos novamente à caça na reserva dos outros, para nos adonar dos indivíduos. O que você pensa da fórmula da "diversidade reconciliada"? Não vai acabar em um ecumenismo que permanece estático? Constatamos que somos diferentes. Eu não valorizo o fato de que não seja evidenciado o perfil cristão comum, mas sim o perfil luterano com relação ao perfil romano. Já tínhamos superado isso.

Jürgen Moltmann – Eu também acho. No diálogo inter-religioso, por exemplo, eu sinto uma profunda comunhão com os teólogos católicos, porque, diante de outros, podemos falar a uma só voz. Lembro-me de um colóquio com marxistas, em 1968, na Tchecoslováquia. Josef Hromádka, Johann Baptist Metz e eu representávamos o cristianismo de um modo totalmente natural a uma só voz. Algo semelhante acontece no diálogo com os judeus. O judaísmo não tem uma relação especial com a Igreja evangélica e uma relação diferente com Roma. Com relação ao judaísmo, nós, cristãos, falamos a uma só voz e, nisso, estamos próximos uns dos outros.

Uma pergunta dirigida aos teólogos é justamente esta: ainda existem diferenças, sobretudo doutrinais, que tornam impossível a comunhão eucarística? E há 40 anos, entre teólogos, evangélicos e católicos, existe um comum acordo em dizer que não há nenhuma. Anos atrás, havia a proposta Rahner-Fries. Antes da primeira Jornada Ecumênica de 2003, em Berlim, os institutos ecumênicos verificaram o tema e disseram a mesma coisa. Alguns teólogos, que hoje são cardeais, afirmaram que o escândalo da divisão entre cristãos na eucaristia é muito mais grave do que o escândalo de grupos individuais que vão à frente e celebram juntos a eucaristia.

Hans Küng – A Comissão para a Fé e a Constituição da Igreja do Conselho Ecumênico de Igrejas, em 1982, juntamente com representantes oficiais da Igreja Católica, já haviam emitido a Declaração de Lima sobre batismo, eucaristia e ministério. Nela, também foi estabelecida a comum "liturgia de Lima". Segundo essa declaração, todos os pontos controversos – sacrifício expiatório, presença real, ministérios – pode ser apropriadamente considerados como resolvidos. Todos os cristãos podem afirmar com o Documento de Lima: "É Cristo quem convida ao banquete e o preside .[...] Na maior parte das Igrejas, essa presidência é representada por um ministro ordenado. […] O ministro (minister) da eucaristia é o embaixador que representa a iniciativa de Deus e expressa o vínculo da comunidade local com as outras comunidades locais na Igreja universal". Além disso, em 1971, houve o encontro ecumênico de Pentecostes em Augsburg, no qual simplesmente foi praticada a intercomunhão. Em 1971! Portanto, se queremos ir adiante, devemos realizar necessariamente de novo uma autoajuda.

Jürgen Moltmann – Nos anos 1970, experimentamos em Tübingen um grupo ecumênico de trabalho, no qual a Bíblia era lida e pregada em comum. De vez em quando, surgia a questão: não podemos também celebrar em comum a eucaristia? Um padre jesuíta e eu estávamos encarregados de preparar uma liturgia. Pensava-se que, para fazer isso, precisaríamos de algumas semanas, mas depois de três horas estávamos prontos! De fato, nós não estamos tão longes um do outro. Depois, celebramos a eucaristia juntos – e todos ficamos muito satisfeitos.

Naquele momento, não tornamos isso público. Nesse meio tempo, no entanto, a pressão se tornou tão forte que era preciso dar passos posteriores. Podia-se iniciar com os casais de esposos de confissões diferentes. O que Deus uniu, o homem não deve separar. E nem a Igreja Católica. E especialmente não na eucaristia, à mesa do Senhor. Isso é impossível e insuportável. De fato, a partir dessa experiência, ou saem casais ateus, que não frequentam mais nenhuma Igreja, ou eles vão juntos a uma só Igreja.

Um segundo passo a ser dado seria talvez que os cônjuges divorciados e separados não sejam excluídos também da eucaristia, porque, provavelmente, são eles que mais precisam dela. E o terceiro passo seria a hospitalidade eucarística, o fato de nos convidarmos reciprocamente. A esse respeito, eu gostaria de dar um testemunho pessoal: todas as vezes em que eu me encontro presente em um culto litúrgico e ouço a voz de Cristo: "Por ti dado, por ti derramado", eu participo dele. E até agora nunca fui rejeitado. No grupo dos editores da revista Concilium, sempre havia uma celebração eucarística, e os meus amigos católicos sempre vinham ao meu encontro e me convidavam com eles para essa celebração da eucaristia, e eu ouvia a voz de Cristo.

Hans Küng – A questão não é tratada de modo coerente nem mesmo em Roma: se forem as pessoas certas, é feita uma exceção. O Papa Bento XVI ofereceu a eucaristia ao fundador da Comunidade de Taizé, o teólogo reformado Roger Schutz. Quando ele era professor em Tübingen, Joseph Ratzinger participou de uma celebração da eucaristia, onde muitos católicos e protestantes estavam uns ao lado dos outros. Na verdade, ele ainda era então da opinião de que os irmãos ortodoxos devem ser vinculados só aos Concílios aos quais eles mesmos participaram, isto é, aos primeiros sete. Isso seria, naturalmente, uma grande simplificação. Mas eis que isso não foi feito, em certas circunstâncias, contra as melhores forma de ver anteriores. Por isso, eu também sou da opinião de que devemos assumir pessoalmente o comando da situação agora e simplesmente seguir em frente.

Jürgen Moltmann – A esse respeito, quero expressar ainda um pensamento audaz: antes vem a experiência, depois a teoria! Primeiro a práxis, depois a teologia! Na Ceia e, respectivamente, na eucaristia, nós celebramos não as nossas teorias, mas sim a presença do Cristo vivo! E, por isso, eis a minha proposta: primeiro vem o comer e o beber, e só depois ficamos na mesa para discutir – na presença viva do Cristo – as nossas diferenças, para resolver as nossas controvérsias etc. Portanto, primeiro a comunhão na Ceia do Senhor e depois a discussão sobre a teoria e a teologia.


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Católicos belgas lançam manifesto por reformas na Igreja

Na semana anterior ao início do Advento, quatro padres flamengos lançaram um manifesto por reformas na Igreja que pedia a permissão da indicação de leigos como párocos, líderes litúrgicos e pregadores, e pedia a ordenação de homens e mulheres casados como sacerdotes.

A análise é do teólogo norte-americano John A. Dick, professor da Universidade de Ghent, que viveu por 30 anos na Bélgica. O artigo foi publicado no sítio National Catholic Reporter, 02-12-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Até o final da semana, mais de 4.000 católicos publicamente ativos haviam assinado o manifesto Os fiéis tomam a palavra. No dia 1º de dezembro, o número de signatários havia alcançado os 6.000 [neste sábado, 3, o número já havia superado os 6.500].

Entre os apoiadores estão centenas de padres, educadores, acadêmicos e profissionais católicos. Dois apoiadores proeminentes são os ex-reitores da Universidade Católica de Leuven, Roger Dillemans e Marc Vervenne.

"Não são 'pessoas de protesto'. São pessoas de fé. Elas estão levantando as suas vozes. Elas esperam que seus bispos estejam ouvindo", disse o Pe. John Dekimpe, um dos quatro padres que lançaram o manifesto.

"Algumas pessoas têm medo de se aproximar das lideranças da Igreja", disse o padre, que vive em Kortrijk. "Isso é ser dissidente? Eu não acho. A Igreja belga é um desastre. Se não fizermos algo, o êxodo dos que abandonam a Igreja nunca vai parar. Eu realmente quero que os bispos reflitam profundamente sobre o crescente descontentamento de tantos fiéis".

Entre as demandas do manifesto, feitas "em solidariedade com os irmãos da Áustria, da Irlanda e de muitos outros países", estão as seguintes:

  • Que a liderança das paróquias seja confiada a leigos formados;
  • Que os serviços de Comunhão sejam realizados mesmo quando nenhum sacerdote esteja disponível;
  • Que os leigos possam pregar;
  • Que as pessoas divorciadas possam receber a Comunhão;
  • Que, "no menor tempo possível, mulheres e homens casados também sejam admitidos ao presbiterato".

Até agora, não houve nenhuma reação oficial do arcebispo André-Joseph Léonard, o primaz católico da Bélgica, nem de outros bispos da Bélgica ou do Vaticano. Privadamente e nos bastidores, um bispo belga aplaudiu o manifesto.

Jürgen Mettepenningen, teólogo de Leuven e ex-assessor de imprensa de Léonard, disse ao jornal belga De Morgen que espera que o manifesto possa levar a uma reforma da Igreja bem elaborada. "Quando eu reflito sobre o que eu escrevi e disse nos últimos anos, eu só posso dizer que o espírito do manifesto é o mesmo espírito no qual eu tentei trabalhar para tornar a Igreja mais credível: fiel à fé".

No ano passado, depois que as denúncias de abuso abalaram a Igreja belga, uma comissão independente descobriu abusos sexuais na maioria das dioceses, internatos e ordens religiosas católicas. A comissão disse que 475 casos de abuso haviam sido denunciados a ela entre janeiro e junho deste ano.

Em um dos casos mais proeminentes, o ex-bispo de Bruges, Roger Vangheluwe, foi forçado a renunciar depois de admitir que abusou do seu sobrinho durante anos. Em abril deste ano, ele disse à televisão belga que havia molestado de outro sobrinho e que tudo tinha começado "como uma brincadeira".

Leia aqui o texto completo do manifesto Os fiéis tomam a palavra.


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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Manifesto ''Os fiéis tomam a palavra''

Desta vez, são os fiéis católicos flamengos, padres e leigos, da região do Flandres, no norte da Bélgica, que “tomam a palavra” e pedem reformas à Igreja, pelo fim de problemas como as paróquias sem padres, as celebrações eucarísticas em horários inapropriados e as celebrações da palavra sem comunhão.

Mais de 6 mil pessoas já assinaram o manifesto.

O texto foi publicado na revista JA - Die Neue Kirchenzeitung, 04-12-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Paróquias sem padres, celebrações eucarísticas em horários inapropriados, celebrações da palavra sem comunhão: tem que ser assim? Por que as reformas necessárias da Igreja não são feitas? Nós, fiéis flamengos, pedimos que os nossos bispos encontrem uma saída ao impasse em que estamos. Fazemos isso em solidariedade com os irmãos da Áustria, da Irlanda e de muitos outros países, que também clamam por reformas que são vitais para a Igreja.

Nós não entendemos por que a liderança das nossas comunidades locais (as paróquias, por exemplo) não é confiada a um homem ou a uma mulher, casado ou não, profissional ou voluntário, que tenha recebido a necessária formação. Precisamos de pastores comprometidos.

Nós não entendemos por que esses fiéis não podem presidir as celebrações dominicais. Precisamos. em todas as comunidades vivas, de ministros litúrgicos.

Nós não entendemos por que – onde nenhum padre está à disposição – não é permitida uma celebração da Palavra de Deus com a comunhão.

Nós não entendemos por que leigos qualificados e animadores de celebrações adequadamente preparados não podem pregar. Precisamos da Palavra de Deus

Nós não entendemos por que deve ser negada a comunhão a fiéis de boa vontade que, depois de um divórcio, se casaram novamente. Assim como os outros, eles pertencem à comunidade.

Felizmente, já há lugares onde se age assim.

Pedimos também que, no menor tempo possível, mulheres e homens casados também sejam admitidos ao presbiterato. Nós, fiéis, precisamos isso desesperadamente.

Confira aqui o texto no original.